35 Anos de Vida Consagrada da Irmã Anésia Maria Saraiva

A Revista A Ponte entrevistou a Irmã Anésia,  psdp, pelos 35 anos de Vida Consagrada, celebrados em 01 de janeiro de 2021.

Revista A Ponte: Irmã Anésia conte-nos sobre sua família.

Irmã Anésia: sou filha de Joaquim José Saraiva e Brasiliana Maria de Jesus Saraiva. Meus pais são naturais de Minas Gerais, e, em 1964, por motivo de trabalho, fomos morar em Mato Grosso do Sul. Sou a filha mais velha de oito irmãos: quatro mulheres e quatro homens. Meus pais eram pessoas humildes, simples e muito religiosas, de uma grande fé.

Sinto muito orgulho pelos pais que Deus me deu. Sou grata por ter nascido neste berço de amor e ternura. Sei que não foi fácil para eles criar e educar oito filhos numa época muito difícil. Mesmo diante das dificuldades eles nunca nos abandonaram.

Lembro uma frase do meu pai, homem de pouco estudo, que me marcou muito e que hoje é motivo de reflexão para mim: ?Vocês não façam coisas erradas por aí, porque vocês não são filhos de ninguém, vocês têm um pai.? Isto é responsabilidade do pai, o orgulho de ter educado bem os seus filhos; minha mãe confirmava tudo com seu olhar de amor e confiança, pois os dois eram muito unidos, ao ponto de nunca os ver brigarem ou discutirem na nossa frente. Vi, sim, meu pai e minha mãe, ficarem sem se alimentar para deixar para nós, porque para eles o importante, naquele momento difícil, eram os filhos. Por isso, me sinto fruto de amor, doação e sacrifício dos meus pais. Tenho certeza de que tudo isso fecundou e fez crescer minha vocação.

A Ponte: Ir. Anésia, como começou sua história vocacional?

Irmã Anésia: Deus constrói sua história na nossa. Na verdade, nunca pensei em ser religiosa, pois sempre vivi junto com os meus pais e não queria sair de perto deles. Gostava de trabalhar, estudar e ajudá-los. Minha família morava numa fazenda há alguns anos e havia muito sofrimento. Comecei, então, a rezar para que Deus me desse um trabalho no Hospital Sagrado Coração de Jesus, em Anaurilândia, administrado pelos Pobres Servos da Divina Providência. Escolhi este local porque eram pessoas religiosas e me sentia bem ali.

Deus foi tão bom para comigo que fez tudo como eu pedi. Através deste trabalho, que exerci por dois anos, Deus foi me mostrando novos caminhos. Já que Deus realizou o meu sonho, agora Ele me pedia para realizar a sua vontade e abraçar o seu projeto de Amor. Assim, no ano de 1982 fui conhecer uma comunidade das Irmãs Pobres Servas da Divina Providência em Farroupilha, Rio Grande do Sul e passar alguns dias de férias.

A Ponte: Após esses dias de experiência na casa das Irmãs, você retornou a mesma para casa, trabalho? Mudou algo em sua vida? Qual foi sua resposta?

Irmã Anésia: Depois destes dias de férias e descanso reiniciei meu trabalho com mais entusiasmo por ter conhecido as Irmãs e ter feito esta experiência. Todos os dias eu ouvia os seminaristas fazendo os seus momentos de orações e cantos. Eu gostava muito de ouvir e acompanhá-los.

Quando ouvia o canto: ?Senhor se tu me chamas eu quero te ouvir?, a letra mexia comigo como se fosse um chamado de Deus para que eu respondesse. Fui me tornando uma pessoa sensível. Tudo me fazia refletir sobre o seguimento de Jesus.

Um belo dia veio falar comigo uma Irmã Pobre Serva, chamada Carmela, muito conhecida na cidade, mas eu não a conhecia muito. A Irmã me propôs fazer uma experiência mais prolongada na comunidade em Farroupilha que já conhecia. Imediatamente falei com meus pais. Eles sentiram muito, mas deixaram que fizesse.

A Ponte: Houve alguma dificuldade ou barreira para a Irmã dar a resposta ao chamado de Deus?

Irmã Anésia: Não foi fácil no início. Outra cultura, diferentes costumes, mas a graça do Senhor estava comigo e me acompanhava. Foi este o caminho que Deus permitiu que eu percorresse para responder ao seu chamado. As dificuldades que surgiram foram superadas, porque tenho facilidade de adaptação e a alegria de estar nesta caminhada, para trabalhar para o Reino de Deus. O Senhor sempre colocou pessoas, realidades, o trabalho no hospital, as Irmãs e os Irmãos, um casal de leigos italianos, para me animarem no seguimento a Jesus. Pois foi sempre Jesus que me animou, sustentou e fortaleceu.

A Ponte: Qual fato marcou a Irmã nesse período vocacional? 

Irmã Anésia: Uma lembrança significativa que jamais esquecerei é o próprio trabalho no hospital, algo tão sonhado, buscado e vivido com tanta alegria e dedicação que tinha medo de um dia perder. Mas quando o Senhor me chamou, o meu emprego que tanto gostava, não foi impedimento, mas sim uma graça e um meio para descobrir os seus caminhos.

A Ponte: Como foi a experiência missionária da Irmã como consagrada a Deus? Alguns fatos marcantes.

Irmã Anésia: Cada uma das missões que recebi foram sempre marcadas por momentos especiais de graças e dons de Deus. Seja por meios de formação especial, retiros que fortaleceram a minha vocação e minha doação ao serviço do Reino de Deus.

Dois momentos muito fortes de graça e de dor marcaram esta trajetória. Quando estava me preparando para a missão em Nova Andradina, Mato Grosso do Sul, depois de três anos em Marituba, Pará, faleceu meu pai em 2013. Outro momento ainda mais forte, em que já estava na missão de Nova Andradina, também já em trâmite para assumir a nova missão em Limoeiro, Pernambuco, faleceu minha mãe em 2016. Foram as partidas do pai e mãe que fizeram crescer em mim, ainda mais, o amor à missão. Porque meus pais sempre me animavam para viver o ardor missionário.

A Ponte: Irmã Anésia o que significa ser religiosa Pobre Serva da Divina Providência, hoje? Quais são seus sentimentos...

Irmã Anésia: Para mim hoje, ser Pobre Serva da Divina Providência é exatamente isso: viver o espírito do abandono e a confiança em todos os momentos da vida e da missão com alegria. Conheço muitos irmãos e irmãs que deram testemunho concreto de suas vidas consagradas; foram fiéis a Deus.

Ser Irmã Pobre Serva da Divina Providência é viver com simplicidade e humildade e, aberta a vontade de Deus em tudo que faço. Animada pela atitude de disposição interior que faz mover o meu exterior. Com alegria e entusiasmo no serviço e entrega aos irmãos de uma maneira especial aos pobres, doentes da sociedade. 

Os meus sentimentos são de alegria e gratidão. Primeiro por termos um fundador santo. Isso me anima a buscar a santidade, como ele, nas coisas mais simples, com alegria porque tudo é para Deus. Somos grandes, dizia São João Calábria, quando somos pequenos e juntos com os pequenos. É nesta atitude que brota do meu coração sentimentos de louvor e gratidão ao Pai Providente que cuida de nós com tanto amor e carinho.

A Ponte: O Carisma é uma graça de Deus dada a humanidade. Qual é a importância do carisma calabriano para a Igreja e o mundo?

Irmã Anésia: O carisma é muito importante para a Igreja, primeiro porque foi fruto da expiração de alguém que amava muito a Igreja a tal ponto que sentia a Igreja como sua. A expressão: ?a minha Igreja?, levou-o a viver e abraçar todos os sofrimentos da Igreja. Esta atitude do Padre Calábria era muito visível e acredito que ajudou a muitos Sacerdotes, Religiosos e Leigos a verem a Igreja com um amor especial.

Outra frase manifesta a visão do Calábria em relação ao mundo: ?o mundo todo é de Deus?. É um carisma especial para a Igreja e para o mundo, com seu modo especial de manifestar o amor de Deus. É este apelo forte que São João Calábria faz a toda Obra: ?testemunhar para o mundo que Deus é Pai?. Concluo citando a Encíclica do Papa Francisco: Fratelli Tutti (Todos irmãos): ?Viver a Fraternidade como Igreja e como humanidade?.

A Ponte: A Irmã gostaria de deixar uma mensagem aos leitores da Revista A Ponte?

Irmã Anésia: A beleza da vida consiste em viver todas as estações. Nascer, crescer, produzir frutos e florir com perfume ou não. As estações fazem amadurecer, fortalecer e dar qualidade às nossas escolhas, sejam elas quais forem. A vocação é uma delas, quando vivida e acolhida como dom e chamado de Deus, nos comprometemos com o projeto de Deus. Assim o sonho de Deus vai se tornando meu sonho e juntos ajudamos tantas pessoas a conhecer e amar a Deus.

Histórico de Missão

1986: neo-professa na Casa Matei-Dei - Farroupilha/RS.

1989: Seminário Apostólico Nossa Senhora do Caravaggio - Farroupilha/RS.

1997: Paróquia em Bataguassu - Mato Grosso do Sul.

2002: Paróquia e vocacional - Anaurilândia/MS.

2004: na Escola de cursos e artesanatos, trabalho social e pastoral. Experiência muito bonita de enculturação e transformação na missão em Salto - Uruguay.

2009: Creche e pastoral - Porto Alegre/RS.

2010: Social e pastoral - Marituba/PA.

2014: Paroquial e pastoral - Nova Andradina/MS.

2017: Pastoral e social - Limoeiro/Pernambuco.

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